Academic Research

Essays

▶︎ On the research of Dr. Guillaume Duchenne de Boulogne (Part I)

▷ On the research of Dr. Guillaume Duchenne de Boulogne (Part II) (soon)


  • The positivist aspiration to classify the world through an objective process that photography guaranteed put this medium at the service of many areas of human life. In medicine, one of the most popular uses of photography was in electrophysiology. The photographs taken during the sessions of Dr Guillaume Duchenne de Boulogne (1806-1875), who specialised in electrotherapy research, are well known [1]. The application of photography in the medical sciences was still viewed with suspicion in his time, and it was argued that the traditional illustration used since the Renaissance offered more detailed work. Duchenne de Boulogne, therefore, became the first modern doctor to use photography scientifically.

    The foundations of his research were based, on the one hand, on the work of Italian physicist Luigi Galvani (1737-1798), who proved the existence of electrical currents in muscles, and English scientist Michael Faraday (1791-1867), for his discoveries in the field of electromagnetic induction (1831); on the other, on the influence of Physiognomy, which was interested in observing the physical features of a person's face to identify their character or personality, and had a long history dating back to classical antiquity. While character typologies had been developed since the 17th and 18th centuries for use in art academies (e.g. by the French painter Charles Le Brun, Les expressions des passions de l'âme, 1727), the most influential contribution in this area was the Essai sur la physiognomonie: destiné a faire connoître l'homme & à le faire aimer (1781) [2], by the Swiss Johann Kaspar Lavater (1741-1801).

    Duchenne de Boulogne wanted to prove that it was possible to reproduce human emotional states by electrically stimulating the muscles behind facial expressions. The experiments began in the mid-19th century. From the group of people who volunteered to take part, the French doctor chose an elderly shoemaker with cognitive problems who suffered from a slight anaesthetic of the face, which would have helped him to apply the electric current painlessly. According to Duchenne's notes, the man's wrinkles "responded well to the effect of the current and thus offered an obvious delineation of facial expressions. The man's thinness would additionally increase the clarity of the facial markings and make it easier to find the exact points to place the electrodes." [3]. For our work, we are particularly interested in what Duchenne wrote about lighting and the way he orientated the subject during the experiment in which he made the photograph known as Contractions Musculaires (1856), corresponding to the emotion "surprise"[4]: "The light was placed in such a way that the wrinkles stimulated by the electrical impulse were as well defined as possible. An assistant synthesised the plate with wet celluloid. Before placing it in the camera, the photographer, with the help of the assistant, tried to find a pose that would illustrate the subject in detail without disturbing the already well-defined focus of the subject. At the agreed signal, the assistant opened and closed the lens. Finally, the experimenter himself carried out the development." (in Koetzle 2013: 41). Note, on the one hand, the care with which the doctor shone the light to emphasise the wrinkles stimulated by the electrical impulse, and on the other, how the subject was guided in his posture to fulfil a specific objective. These two actions — manipulating light and the photographer's orientation of the object to be recorded — are two relevant aspects of any photographic essay.

    The results of Duchenne de Boulogne's research were published in 1862 in a book illustrated with photographs which, according to him, were mostly his own [5] and which were mainly intended for use in fine arts schools. However, it had little impact on either the scientific or artistic community and only aroused some interest when Charles Darwin (1809-1882) drew attention to Duchenne de Boulogne's work in The Expression of the Emotions in Man and Animals (1872) in which he included numerous photographs by the French doctor (cf. Marien 2011: 153).

    September 26, 2017


  • A aspiração positivista de classificar o mundo através de um processo objectivo que a fotografia parecia garantir colocou este medium ao serviço de muitas áreas da vida humana. Na medicina, uma das utilizações mais populares da fotografia ocorreu na electrofisiologia. São bem conhecidas as fotografias realizadas durante as sessões do Dr. Guillaume Duchenne de Boulogne (1806-1875), que se especializou na investigação no campo da electroterapia [1]. A aplicação da fotografia nas ciências médicas era ainda vista no seu tempo com desconfiança, defendendo-se que a ilustração tradicional usada desde o Renascimento oferecia um trabalho mais detalhado. Por conseguinte, Duchenne de Boulogne tornou-se no primeiro médico moderno a utilizar a fotografia de forma científica.

    As bases da sua investigação assentavam, por um lado, no trabalho do físico italiano Luigi Galvani (1737–1798), que provou a existência de correntes eléctricas nos músculos, e do cientista inglês Michael Faraday (1791-1867), pelas descobertas na área da indução electromagnética (1831); por outro, na influência da Fisiognomia, que se interessava pela observação dos traços físicos do rosto de uma pessoa, com vista a identificar o seu carácter ou personalidade, e tinha uma longa história desde a Antiguidade clássica. Se as tipologias de carácter estavam elaboradas desde o século XVII e XVIII para uso nas academias de arte (e.g. pelo pintor francês Charles Le Brun, Les expressions des passions de l’âme, 1727), o contributo mais influente nesta área será o Essai sur la physiognomonie: destiné a faire connoître l’homme & à le faire aimer (1781) [2], do suíço Johann Kaspar Lavater (1741–1801).

    Duchenne de Boulogne pretendia provar que era possível reproduzir os estados emocionais do ser humano através da estimulação eléctrica dos músculos que estão por detrás das expressões faciais. As experiências iniciaram-se em meados do século XIX. Do conjunto de pessoas que se ofereceram para participar, o médico francês escolheu um sapateiro já com alguma idade e problemas cognitivos, que sofria de uma ligeira anestesia da face, o que teria ajudado na aplicação da corrente eléctrica sem dor. De acordo com as notas de Duchenne, as rugas do homem “respondiam bem ao efeito da corrente e assim ofereciam uma delineação especialmente clara das expressões faciais. A magreza do homem aumentaria adicionalmente a clareza das marcas faciais e tornaria mais fáceis os pontos exactos onde colocar os eléctrodos.” [3]. Para o nosso trabalho interessa em particular o que Duchenne escreveu sobre a iluminação e o modo como orientava o retratado durante a experiência em que realizou a fotografia conhecida como Contractions Musculaires (1856), correspondente à emoção “surpresa”[4]: “A luz foi colocada de forma a que as rugas estimuladas pelo impulso eléctrico ficassem tão bem definidas quanto possível. Um assistente sintetizou a chapa com celulóide húmida. Antes de a colocar na máquina, o fotógrafo, com a ajuda do assistente, tentou encontrar uma pose que ilustrasse o sujeito em pormenor, sem perturbar a já bem definida focagem do tema... Ao sinal acordado, o assistente abria e fechava a lente. Por fim, o próprio experimentador realizava a revelação.” (in Koetzle 2013: 41). Note-se, por um lado, o cuidado com que o médico fazia incidir a luz no sentido de salientar as rugas estimuladas pelo impulso eléctrico, por outro, o modo como o retratado foi orientado na sua postura para cumprir determinado objectivo. Estas duas acções — a manipulação da luz e a orientação face ao fotógrafo do objecto a registar — constituem dois aspectos relevantes para qualquer ensaio fotográfico que se pretenda fazer.

    Os resultados das investigações de Duchenne de Boulogne foram publicados em 1862 num livro ilustrado com fotografias que, segundo afirmou, eram na sua maioria da sua autoria [5], e se destinava sobretudo a ser utilizado nas escolas de belas-artes. Todavia, teve um impacto pouco significativo, quer na comunidade científica, quer na artística, e só despertou algum interesse quando Charles Darwin (1809-1882) chamou a atenção para o trabalho realizado por Duchenne de Boulogne no livro The Expression of the Emotions in Man and Animals (1872), no qual incluiu numerosas fotografias do médico francês (cf. Marien 2011: 153).

    26 de Setembro de 2017

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[1] About the photographs of Duchenne de Boulogne, cf. Marien 2011: 152-153 e fig. 5.13; Hacking 2012: 141 e fig. 2; see http://metmuseum.org/art/collection/search/305829
(accessed on 09.06.2016).

[2] Cf. http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k56987922
(accessed on 09.06.2016).
This is the third version of a work published between 1775 and 1778 under the title Physiognomische Fragmente zur Beförderung der Menschenkenntnis und Menschenliebe.

[3] Information gathered from Koetzle 2013: 40.

[4] See https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Guillaume_Duchenne_de_Boulogne_performing_facial_electrostimulus_experiments_%283%29.jpg
(accessed on 09.06.2016).

[5]
Mécanisme de la physionomie humaine ou analyse électro-physiologique de l’expression des passions applicables à la pratique des arts plastiques.
See https://archive.org/details/mcanismedelaphy00duchgoog
(accessed on 09.06.2016).
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Bibliography
• HACKING, Juliet, ed. (2012), Photography. The Whole Story. London: Thames & Hudson.
• KOETZLE, Hans-Michael (2013), 50 Photo Icons. A História por detrás das Imagens.Trad. Marta Jacinta. Köln: Taschen.
• MARIEN, Mary Warner (3-2011), Photography: A Cultural History. London: Laurence King Publishing.

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[1] Sobre as fotografias de Duchenne de Boulogne, cf. Marien 2011: 152-153 e fig. 5.13; Hacking 2012: 141 e fig. 2; vide http://metmuseum.org/art/collection/search/305829
(consultado em 09.06.2016).

[2] Cf. http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k56987922
(consultado em 09.06.2016).
Trata-se da terceira versão de uma obra publicada entre 1775 e 1778 com o título Physiognomische Fragmente zur Beförderung der Menschenkenntnis und Menschenliebe.

[3] Informações recolhidas de Koetzle 2013: 40.

[4] Vide https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Guillaume_Duchenne_de_Boulogne_performing_facial_electrostimulus_experiments_%283%29.jpg
(consultado em 09.06.2016).

[5]
Mécanisme de la physionomie humaine ou analyse électro-physiologique de l’expression des passions applicables à la pratique des arts plastiques.
Vide https://archive.org/details/mcanismedelaphy00duchgoog
(consultado em 09.06.2016).
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Bibliografia
• HACKING, Juliet, ed. (2012), Photography. The Whole Story. London: Thames & Hudson.
• KOETZLE, Hans-Michael (2013), 50 Photo Icons. A História por detrás das Imagens.Trad. Marta Jacinta. Köln: Taschen.
• MARIEN, Mary Warner (3-2011), Photography: A Cultural History. London: Laurence King Publishing.

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